Luís de Camões

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domingo, 30 de janeiro de 2011

LUÍS VAZ DE CAMÕES EM ENTREVISTA

A nossa turma regressou quase 431 anos para entrevistar um dos maiores poetas portugueses, Luís Vaz de Camões

Externato Champagnat- Seja bem-vindo, Exmo. Sr. Luís de Camões. Estamos aqui hoje com finalidade de lhe fazer uma breves perguntas sobre a sua vida e carreira, se assim o permitir.

Luís de Camões - Claro que sim, será um prazer meu relembrar o meu passado e a minha longa vida profissional. Aliás, o meu passado é bem mais interessante do que o meu presente, já que, como vêem, vivo praticamente na miséria.

EA – Comecemos então. Estamos curiosos por saber onde e em que ano nasceu o considerado grande poeta de Portugal.

LC – Eu nasci, e com muito orgulho, na capital portuguesa, Lisboa, em 1524 ou em 1525. Não sei muito bem. Na altura não se registavam os nascimentos de uma forma organizada. De qualquer modo, essa era uma época maravilhosa de descobrimentos e de grandes aventuras.

 EA – Em que estatuto social se encontrava a sua família?

LC – Provenho de uma família da pequena nobreza que possuía algumas posses e bens. Portanto, tive possibilidades de frequentar uma das melhores universidades da época, a Universidade de Coimbra, que me deu uma sólida educação. Essa educação foi fundamental para tudo o que escrevi.

EA – Após terminar o seu percurso académico, onde se estreou como poeta?

LC –  Comecei a frequentar a corte de D. João III e aí comecei estrear-me na poesia e também a apaixonar-me…pelas pessoas erradas.

EA – Todos sabemos que o senhor, Luís de Camões, é conhecido pela falta do olho direito. A que se deveu essa perda?

LC – Infelizmente ainda me lembro bem desse acontecimento… Eu tive uma juventude muito agitada. Fiz amizades que me levaram por maus caminhos. Andei em imensas escaramuças… Até cheguei a ter a alcunha de Trinca-Fortes por ser tão briguento! Por isso e porque me envolvi com Dona Catalina de Ataíde, dama da Rainha, fui enviado como soldado para Ceuta durante dois anos e foi numa dura batalha que perdi o meu olho direito.

EA – Após regressar a Portugal foi preso. A que se deveu esse acontecimento?

LC – Em 1552, tive uma desavença com um funcionário da Corte e fui condenado, contudo fiquei apenas um ano na cadeia de Tronco, pois fui perdoado pelo rei. Reflecti sobre o assunto e cheguei à conclusão de que iria para a Índia para agradecer o perdão do rei e para me libertar da vida lisboeta, que já não me satisfazia.

EA – Sendo que saiu de Lisboa com objectivo de procurar uma vida que lhe agradasse mais na Índia, acha que conseguiu satisfazer as suas expectativas?

LC – De uma maneira sim, de outra maneira não, pois, quando cheguei à Índia, fixei-me em Goa. Sinceramente, fiquei bastante decepcionado porque as minhas expectativas eram outras. Mas por outro lado, foi lá onde iniciei a escrita d’Os Lusíadas, uma das minhas melhores e mais bem sucedidas obras.

EA – Foi através da escrita d’Os Lusíadas e de outros poemas que expressou os seus sentimentos e opiniões. Poderia dar-nos um exemplo de um desses casos?

LC – Sim, escrever sempre o que sentia em forma de poesia era uma forma menos polémica de mostrar a minha indignação em relação a alguns assuntos, pelo que eu recorria muito a essa forma de expressão, como podem verificar num dos meus sonetos “Cá nesta Babilónia donde mana” onde eu expresso a minha desilusão quanto a Goa. Contudo, também cheguei a escrever em troca de comida e de dinheiro. Até fui escriba público. Naqueles tempos, escassas eram as pessoas que sabiam ler e escrever.

EA – E permaneceu em Goa durante a sua vida inteira?

LC – Não, de todo! Viajei ainda para Macau, onde exerci o cargo de provedor-mor de defuntos e ausentes. Foi em Macau que me dediquei dia e noite a Os Lusíadas. No entanto, acabei por voltar a Goa para ir a inquérito judicial. Constava que eu me tinha apropriado de bens alheios.

EA - Sabemos da existência de uma fatídica história do retorno para Goa. Poderia esclarecer-nos melhor?

LC - No regresso a Goa, o barco onde seguia naufragou na foz do Rio Mecom, mas consegui salvar-me apenas nadando com um braço, pois com o outro segurava o manuscrito d´Os Lusíadas, que era bastante importante para mim.

EA – Durante a sua vida alguma vez se apaixonou perdidamente?

LC – Sim, Dinamene, uma bela donzela de origem chinesa, pela qual dava a minha vida. Viajava comigo no barco de retorno a Goa. Morreu com a ocorrência no naufrágio... Nunca tinha sentido algo assim tão forte por alguém.

EA – Como regressa a Portugal?

LC – Depois do naufrágio, sou levado para Goa novamente, onde vivo com a ajuda de alguns empréstimos de amigos. Devido a algumas zangas, sou preso novamente. No entanto, valem-me algumas boas relações que tenho, que me vão protegendo. Ainda antes de Portugal, vou para Moçambique, onde sou nomeado Capitão. Em 1570 regresso finalmente a Portugal. Uns amigos meus juntaram-se e compraram-me umas roupas e a passagem para Portugal.

EA  - Como tem sido a sua vida, agora em Portugal?

LC – Infelizmente, uma miséria. Vim viver com a minha mãe, aqui na Mouraria, em Lisboa. Trouxe comigo Os Lusíadas e nada mais.

EA – Mas, pelo que sabemos, a sua obra foi reconhecida pelo rei.

LC – Sim. Consegui editar a minha obra, com algumas alterações, e o rei concedeu-me uma tença real de 15 mil réis, ou seja 40 réis por dia, "em respeito aos serviços prestados na Índia e pela suficiência que mostrei no livro sobre as coisas de tal lugar".

EA – Então, com esse dinheiro, podia ter uma vida melhor…

LC – É muito pouco dinheiro. Ainda vivo de esmola. Para verem a diferença, nesta altura um carpinteiro ganha cerca de 160 réis por dia. Já pode ver a diferença…

EA – E a partir de agora?

LC – Agora, já não vejo grande futuro. Sinto-me muito fraco, muito doente. Mal me consigo levantar desta cama. Tive uma vida cheia. É verdade que desperdicei muitas oportunidades e fui impulsivo, mas foi a minha escolha e, por isso, não me posso lamentar do meu destino. Tenho esperança de que, quando eu partir, alguém se lembre de mim pelo que eu deixei, pelos meus poemas.

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